O filósofo, cientista e escritor australiano David Chalmers, 55 anos, gerou reflexões sobre o que significa o metaverso e como devemos (ou não) estruturar esse novo mundo, com frases polêmicas no livro Reality+, fenômeno literário de 2022 nos Estados Unidos, ainda inédito no Brasil. MARISA ADÁN GIL – Época Negócios. 15 AGO 2022
“O que os mundos virtuais dizem sobre a nossa realidade? De que maneira os sistemas de inteligência virtual iluminam a mente humana? Essa interação é fundamental para mim.”
Um conceituado filósofo do século 21, Chalmers ficou conhecido no meio pelos seus estudos sobre a consciência, descritos no livro The Conscious Mind e compartilhados no Centro da Mente, Cérebro e Consciência da New York University, onde também ensina Neurociência. Mas sua popularidade cresceu quando ele passou a usar o pensamento filosófico para jogar luz sobre a tecnologia – algo que ele chama carinhosamente de tecnofilosofia.
Casado com a brasileira Claudia Passos, também filósofa, vem ao Brasil todos os anos, para visitar a família – a primeira vez foi em 2013, quando participou de uma conferência sobre consciência e fenômenos conceituais na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Muitas pessoas acham que a realidade virtual é, por natureza, uma realidade falsa ou imaginária – algo como uma realidade de segunda classe., no livro argumento que realidade virtual é realidade genuína. Relacionamentos nascem na realidade virtual, até o momento a realidade virtual é bastante primitiva, mas em 10 ou 20 anos, quando tivermos mundos virtuais que replicam com perfeição o mundo original, não vejo por que não poderíamos ter vidas significativas ali.
Especialmente para indivíduos para quem o mundo físico não é cruel, como pessoas com deficiências ou mais velhas, ou ainda em áreas remotas, sem acesso à realidade física que outras pessoas têm, elas poderiam encontrar novas maneiras de viver.
A maioria das pessoas que usa realidade virtual hoje é governada pelas mesmas leis do mundo físico. Na Holanda o juiz decidiu que era um roubo real, sim, e deveria ir a julgamento, denúncias de abuso sexual também foi tratado de maneira muito séria. De maneira geral, interações entre pessoas no mundo virtual deveriam seguir as mesmas regras do mundo físico.
Quem são os criadores dos mundos virtuais? Esse é o mesmo tipo de pergunta que as pessoas fazem sobre Deus. Ele não poderia ter criado um mundo melhor? Mas não sabemos a intenção de Deus, nem dos simuladores. Talvez estejam apenas fazendo uma experiência. Talvez tenham criado mil universos para ver o que acontecia.
Nesse momento, os deuses do mundo virtual são essas corporações. E quais são as suas motivações? Financeiras, em última instância. Será que os mundos virtuais vão colocar em risco a nossa privacidade, a nossa autonomia? Será que seremos manipulados no futuro da mesma maneira que somos hoje pelas mídias sociais? Será que as mesmas forças de desigualdade do mundo físico vão se manifestar nos mundos virtuais criados por essas corporações? Talvez usuários de elite possam pagar por mundos onde vivam de maneira autônoma, e aqueles sem recursos sejam obrigados a habitar realidades onde seus dados não são privados, e onde os fatos são manipulados.
A internet é algo bom ou ruim? Muitas coisas têm sido maravilhosas. E outras têm sido horríveis. Quais são as melhores formas de governo para garantir justiça, liberdade e igualdade? Faço parte de alguns grupos que estão tentando pensar esse tipo de diretriz para o metaverso. No final das contas, muita coisa vai ser decidida por corporações como Meta, Apple e Google.
Embora ainda não exista uma teoria científica sobre isso, e não saibamos exatamente o que é consciência, tenho minhas opiniões, somos máquinas biológicas e nosso cérebro é uma espécie de computador biológico. E não acho que a biologia em si é a parte essencial. Por exemplo, se alguém fosse capaz de realizar os mesmos processos do cérebro, mas fosse feito de silicone, eu diria que ela tem consciência. Dez anos atrás, diria que nenhuma máquina estava próxima disso.
Troquei alguns e-mails com o engenheiro do Google sobre esses sistemas de IA. Sou cético quanto a essas alegações, mas se elas não têm consciência agora, vão ter logo, consciência é uma experiência subjetiva.
Nós experimentamos o mundo, temos o tempo todo experiências subjetivas, com o que vemos, o que ouvimos, o que sentimos. Um rato tem consciência, mas ele tem consciência de si mesmo? Eu não sei. E pode ser que alguns sistemas de IA já tenham consciência, da mesma maneira que um rato tem. Mas ter consciência de si mesmo é um salto bem maior para as máquinas.
O que nós precisamos é “ter certeza” de que as máquinas têm os mesmos valores e objetivos que os seres humanos. Nem mesmo os seres humanos conseguem concordar sobre como o mundo deveria ser. Os humanos têm brigado sobre isso por milênios’.
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