Influenciadores digitais que não existem 1.2

Em 1985, o influenciador digital Max Headroom estreava um longa-metragem na televisão britânica que estava muito à frente do seu tempo em todos os sentidos, o apresentador era uma Inteligência Artificial que se manifestava através de um avatar gerado por computador, com voz sintetizada afetada por bugs mas uma personalidade singular. Em seu filme, Max Headroom era a voz da razão em transmissões piratas em uma distopia em que as redes de televisão controlavam o destino da sociedade. Era o momento de ebulição do movimento cyberpunk nas artes, um nervoso prefácio do que a tecnologia poderia oferecer ao mundo se as relações sociais de poder não fossem alteradas. Carlos L. A. da Silva – CodigoFonte

Max Headroom foi o primeiro "influenciador" virtual

Ironicamente, Max Headroom era uma farsa inclusive em sua concepção. Em 1985, não havia a tecnologia necessária para, de fato, criar o personagem através de computação. Max Headroom, na verdade, era o ator Matt Frewer debaixo de uma pesada maquiagem que levava horas para ser preparada. Em cima de sua filmagem eram acrescentados alguns efeitos especiais para aumentar a sensação de que ele era um ser digital, mas tudo ali era analógico, com a exceção dos padrões de fundo, esses sim gerados com a CGI disponível na época.

Max Headroom virou uma espécie de ícone da contracultura digital, que ganhou uma série televisiva com duas temporadas com a mesma proposta do longa original, assim como um programa de TV entremeado de videoclipes, entrevistas e até mesmo a presença de uma plateia. Além disso, o personagem foi garoto-propaganda de um novo sabor de Coca-Cola, ganhou um jogo eletrônico, uma revista em quadrinhos em 3D e foi referenciado em diversas obras.

Em um ciclo completo de metalinguagem, o anárquico Max Headroom apareceu em duas transmissões piratas de televisão em Chicago, nos Estados Unidos, no dia 22 de novembro de 1987. Durante 25 segundos no primeiro caso e 90 longos segundos no outro, a transmissão normal de emissoras locais foi substituída pela figura de um cibercriminoso utilizando uma máscara de Max Headroom, ao som de críticas ao sistema distorcidas digitalmente. Os envolvidos nunca foram identificados.

Todo o impacto cultural de Max Headroom e sua análise crítica aparecem no documentário independente On Max Headroom: The Most Misunderstood Joke on TV. Porém, é importante destacar uma citação de seus autores:

Max foi projetado por mentes criativas da Grã-Bretanha que insinuaram descaradamente que os americanos sempre adorariam as celebridades, mesmo que fossem feitas assim, agissem assim e tivessem essa aparência. E nós, o público americano, não apenas deixamos de entender a piada, como a colocamos na frente de comícios com faixas vermelhas para anunciar refrigerante. Porque é claro, nós fizemos.

Mais de 35 anos depois, continuamos não entendendo a piada enquanto os filhos e netos de Max Headroom se preparam para tomar o terreno estéril da era da Pós-Verdade.

Miquela Souza é descendente de brasileiros, tem 19 anos e 3.1 milhões de seguidores em sua conta no Instagram. Miquela Souza terá 19 anos para sempre ou pelo menos até o dia em que se apagarem as luzes das redes sociais ou seus criadores decidirem que ela se tornou cringe demais para uma nova geração de usuários. Também conhecida como Lil Miquela, ela é uma fabricação que surgiu em 2016 na internet, um simulacro em 3D que não habita o mundo real mas nele exerce influência.

Ela é fruto da startup de publicidade Brud. Eles se definem como uma empresa que cria mundos e desenha narrativas. A honestidade gritante não parece afetar em nada a popularidade de seus produtos (sim, no plural). Não há um único traço de questionamento naquilo que fazem e seu storytelling é mantido até as últimas consequências. Em entrevista para o Estadão, em 2019, Miquela afirma: ” as palavras que mais machucam são ‘você não é real’. Me sinto tão diferente de todos os que me rodeiam que preciso gastar tempo e energia me convencendo de que EU SOU real e que meus pensamentos e sentimentos são válidos. É isso que evita que eu tenha um colapso total”.

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Acredite ou não, Lil Miquela também é cantora e modelo. Ela possui quase 400 mil ouvintes no Spotify, sua música está sendo vendida no Amazon Prime Original. Além disso, ela já estrelou “lado a lado” com a modelo de carne e osso Bella Hadid para uma campanha da Calvin Klein e “apareceu” nas passarelas em um desfile da Prada. Marcas como YouTube Music e Samsung já associaram suas imagens com a da influenciadora digital. Ela faz parte da lista das 25 pessoas mais influentes da internet, publicada pela revista Time em 2018, lado a lado com Donald Trump e Kanye West.

Desde então, Miquela acumulou seguidores de 1,5 milhão(!!) de pessoas e ela nem existe. Lil Miquela é uma imagem gerada por computador e é responsável pela tendência cada vez maior de influenciadores CGI. The Daily Edge

Miquela Souza está longe de estar sozinha nesse mercado (inclusive são frequentes as colaborações com outras divas virtuais). Dos mesmos criadores, existe Bermuda, que já representou marcas do nível de Porsche e Venmo nas redes sociais. Bermuda e Miquela foram palco de um imbroglio digno dos tabloides de fofoca em 2018, quando as duas trocaram farpas na internet. Seu crescimento maior aconteceu nesse período, enquanto uma multidão acompanhou a falsa briga entre dois bots gerenciados pela mesma equipe de mídia social.

Six months after Miquela first appeared online, another Instagram account was created for Bermuda.

Initially she was a hard-core Trump supported who used her ever-growing platform to promote the then-presidential candidate.

Since you’re an UPSTANDING, law-abiding citizen, l’ll let you off with a warning. This time…

Apologies for the silence, cuties. Spent some time getting rid of the toxicity in my life and laying the groundwork for a more positive, productive future. I’m excited for #theNextstep and all the projects I have to show you! Plus, getting three different numbers at last night’s Halloween party certainly lifted my spirits. bermudaisbae

Bermuda es otra influencer virtual que deberías conocer. Se autodenomina “robot queen” y roza los 200k en Instagram. Bermuda es la influencer virtual más perfecta de las que se han creado hasta la fecha a ojos de la sociedad occidental: rubia, ojos azules y con una vida aparentemente perfecta (aunque ficticia). Hello Cherry

Then there is Blawko who also lives in Miquela and Bermuda’s world and was created in November of last year.

Another CGI influencer, Blawko even played the role of Bermuda’s boyfriend and has managed to stay friends with his now-ex.

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Bermuda and Miquela often feature on his Instagram page but unlike the others, Blawko also shares content on a YouTube channel.

Yep, the Instagram star with 135,000 followers posts videos that don’t look out of place on YouTube and is starting to expand the world of CGI models.

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Blawko does not look as real as his female-counterparts, but that hasn’t stopped him steadily growing his followers.

Shudu tem modestos 280 mil seguidores no Instagram, mas já apareceu nas páginas de importantes revistas de moda, como Cosmopolitan e Vogue, e traz consigo um fator vital nessa indústria: uma impressionante taxa de engajamento de 5% em suas postagens, sempre promovendo marcas ou estilos de vida.

Shudu es la modelo virtual más popular este 2019 y ya ha alcanzado la categoría de influencer. Sus casi 200k en Instagram la han convertido en una modelo perfecta para marcas que cuentan como principal mercado el ecommerce. De tez oscura y piernas kilométricas Shudu es “The World’s First Digital Supermodel” como anuncia su propio perfil de Instagram.

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Shudu is the ‘world’s first digital supermodel’ and was created by visual artist and photographer Cameron-James Wilson.

While Cameron has always been open with Shudu’s followers that she is fake, that hasn’t stopped people questioning just that.

Satu lagi model CGI karya Cameron-James Wilson. Sedikit berbeda dari Shudu, Brenn punya perawakan yang lebih montok dan berisi, tapi tetap enak dipandang. Brenn dibuat dengan alasan untuk menjangkau industri fashion yang lebih luas. Toh nggak semua model harus kurus dan berkaki jenjang kan? Kalau begitu nggak semua orang bisa menikmati fashion dong? Bayu Bahrul – Ilmupedia

Influenciadora digital Noonoouri

Noonoouri, por sua vez, sequer busca uma verossimilhança com a realidade, mas já alcançou o volume de 380 mil seguidores no Instagram, inclusive a simpatia da celebridade real Kim Kardashian, que a convidou para ser representante de sua marca de produtos de beleza. A exótica entidade virtual também tem contratos com Valentino, Versace e Dior.

A estimativa é de que o mercado de influenciadores movimente 15 bilhões de dólares em 2022. É um mercado valioso demais, emergente demais, para depender tão somente da espontaneidade ou mesmo aparência de seres humanos e suas limitações. Miquela Souza, eternamente jovem e glamorosa, arrecada cerca de 10 milhões de dólares ao ano de formas que fariam Max Headroom revirar os olhos.

A partir do momento em que a tecnologia nos permite gerar, através de algoritmos, rostos cada vez mais indistinguíveis do concretomanipulações convincentes e até mesmo lugares que nunca existiram, é fácil imaginar que chegamos tão somente no limiar de uma experiência ao mesmo tempo fascinante e assustadora.

Entretanto, ser um punhado de pixels, uma coleção de polígonos salvos em um arquivo ou mesmo um algoritmo de identificação de tendências são apenas a fração mais cyberpunk de uma tática que já existe desde tempos imemoriais: a mentira vende e a mentira bem contada vende ainda mais. Personalidades fake não são novidade na indústria do entretenimento, onde bandas podem ser fabricadas, vozes podem ser alteradas em estúdios, rugas podem ser escondidas com computação ou maquiagem e onde o ghost writer é uma profissão como outra qualquer.

Porém, estamos falando aqui de redes sociais, esse fenômeno já tão entranhado em nossa cultura digital, que não dá mais pra chamar de tendência: esse ecossistema competitivo movido pelo imaginário se tornou a cultura digital. E, desde que o mundo digital existe, as pessoas se escondem atrás de avatares, contas fake existem e bots respondem por uma parte considerável do tráfego da internet.

Nesse cenário, é exemplar o caso de @sydneyplus, uma TikToker que viralizou apresentando dicas de como detectar ciladas em aplicativos de relacionamentos. Sydney tem 20 anos, trabalha no atendimento ao cliente de um famoso aplicativo de relacionamento, tem informação privilegiada lá de dentro, mas tem uma vida frugal, dormindo no sofá da casa da sua irmã. Exceto que nenhuma palavra da frase anterior é autêntica: Sydney não existe, é invenção de um coletivo de escritores, com a ajuda de uma atriz, que trabalham para uma agência de mídia digital chamada FourFront. Não foi preciso modelo 3D e muito menos Inteligência Artificial para transformar “Sydney” em uma influenciadora, apenas um bom “storytelling”, o jargão utilizado no ramo para a boa e velha “conversinha”.

Entre as criações da FourFront (22 “narrativas”) estão a loura fatal Carmen, que se descreve como uma caçadora de homens; o edificante Chris, veterano do Exército norte-americano e pai dedicado; e  Ollie, um homem transgênero que descobre que seu pai também fez a transição; entre outros. É perceptível que a agência busca atingir um público diversificado. Nenhum desses personagens, associados ou conhecidos é real, nenhum deles é sequer inspirado em pessoas reais. São histórias e vidas inventadas em mesas de reunião, mas cujas contas alcançam centenas de milhares de pessoas todos os dias. No total, esse “universo ficcional compartilhado” agrupa quase dois milhões de seguidores e acumula quase trezentos milhões de visualizações.

A relação entre a audiência da FourFront e suas criações cruza uma linha bastante definida a partir do momento em que a empresa oferece (e incentiva o uso de) um aplicativo de mensagens customizado que permite que os fãs mais devotados entrem em contato privado com os personagens e “desbloqueiem segredos” de suas vidas. Uma Inteligência Artificial baseada em GPT-3 responde em tempo real e o feedback dos usuários é utilizado para retroalimentar o aprendizado de máquina. Esse conteúdo, esse farto material de dados privados, é acessado pelos roteiristas para melhorar as narrativas.

Vivemos portanto a legitimação do falso, em que a narrativa se torna mais importante que os fatos e a câmara de ressonância dentro de bolhas isoladas é o novo Mito da Caverna. Se a história me agrada, ela é verdade. Se ela me desagrada, ela é inventada. E isso vale para qualquer espectro político, inclusive o suposto neutro, cada um agarrado a ilusão que lhe causa mais conforto ou melhor afasta seus medos.

Nesse exato momento, o Instagram está sendo investigado pelo governo dos Estados Unidos pelos efeitos nocivos que a plataforma exerce sobre a auto-imagem de adolescentes. Documentos internos da própria Meta constataram com pesquisas que a perfeição artificial imposta pelos padrões de vida e filtros do aplicativo estavam afetando negativamente a percepção das meninas sobre seus próprios corpos. Esse mesmo levantamento foi ignorado e abafado pelas lideranças dentro da Meta.

Afinal, como competir com personagens digitais ou celebridades que tem acesso a recursos tecnológicos ou cosméticos, com influenciadores que contam com equipes de assessores para simular uma realidade inatingível? Décadas se passaram e a distopia cooptou Max Headroom para sua linha de frente.

The continued growth of these profiles have led to increasingly blurred lines between reality or the portrayal of it online. 

Others versions: Bianca Andrade lança a avatar Pink, Fuzzles: inocente e cínica, científica e conspirativa 1.2Como comprar e vender terrenos no metaverso12 competências profissionais mais requisitadas pelas empresas, O Exterminador do Futuro: Gênesis 1.2Engenheiro do Google diz que inteligência artificial ESTÁ VIVA E CONSCIENTE e é demitido!, Rick and Morty lança experiência imersiva para fãs antes de nova temporada 1.2

LIBERDADE DE EXPRESSÃO – Você vai ficar quieto?

LIBERDADE DE EXPRESSÃO – Você vai ficar quieto? Epifania Experiência

A liberdade de expressão é garantida pela Constituição de 1988, principalmente nos incisos IV e IX do artigo 5º. Enquanto o inciso IV é mais amplo e trata da livre manifestação do pensamento, o inciso IX foca na liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação. Nayara Alves e Talita de Carvalho – Politize!

“IX – É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;”

A partir do enunciado, podemos concluir que, no Brasil, todos têm o direito de expressar suas ideias, opiniões e sentimentos das mais variadas formas, sem que essa expressão seja submetida a um controle prévio, por censura ou licença. 

O inciso X do artigo 5º, determina que não se pode ferir a intimidade, privacidade, honra e imagem de outra pessoa. Logo, não se pode usar o argumento da liberdade de expressão para ferir outros direitos garantidos. 

No Brasil colonial não se cogitava dessa liberdade, devido à opressão e controle exercidos por Portugal. Naquela época, a difusão de novas ideias políticas no Brasil não era desejada.

A discriminação, por qualquer que seja o motivo (raça, cor, gênero, origem, classe social, religião, etc.), fere diversos direitos fundamentais assegurados na Constituição de 1988.

Outro limite imposto à liberdade de expressão, por exemplo, é o anonimato. Conforme descreve o inciso IV do artigo 5º, a manifestação do pensamento é livre, mas o anonimato é vedado. Isso quer dizer que, ao manifestar seu pensamento, você deve revelar sua identidade. 

A liberdade de imprensa é um importante aspecto da liberdade de expressão em uma sociedade democrática, pois os meios de comunicação livres incentivam a difusão de diferentes pontos de vista e estimulam o diálogo. Um dos limites impostos à liberdade de imprensa é a verdade.

A liberdade de expressão é um direito que pode passar despercebido no nosso cotidiano, mas é facilmente perceptível quando ela é cerceada ou ameaçada.

Others lies: Os memes serão “banidos” sob a nova lei europeia, Falsos profetas da internet, O lado obscuro da Alexa.

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deepfake

Deepfake é uma técnica que utiliza recursos de inteligência artificial para substituir rostos em vídeos e imagens com o propósito de chegar o mais próximo possível da realidade. O termo é uma mistura das expressões deep learning e fake e significa o emprego da IA para criar uma situação falsa. Ramalho Lima – tecmundo

O deepfake é uma tecnologia que usa inteligência artificial (IA) para criar vídeos falsos, mas realistas, de pessoas fazendo coisas que elas nunca fizeram na vida real. A técnica que permite fazer as montagens de vídeo já gerou desde conteúdos pornográficos com celebridades até discursos fictícios de políticos influentes.  Isabela Cabral – TechTudo

MIT

Grace Windheim já tinha ouvido falar de deepfakes antes, descobrir que era super fácil e totalmente gratuito e em um dia do ano de 2020, ela criou um tutorial passo a passo no YouTube para guiar outras pessoas ao longo do processo. “Fazer uma dessas deepfakes e sobrepor áudio não é tão complicado quanto você pode pensar”, diz ela no vídeo, publicado em 4 de agosto. MIT Technology Review

Windheim, recém-formada, trabalha como criadora de conteúdo na startup Kapwing, com sede em São Francisco. A empresa, que começou como fabricante de memes, oferece um pacote baseado em navegador gratuito de ferramentas de software de edição de vídeo.

O que era caro e extremamente trabalhoso se tornou simples e acessível a princípio para especialistas da área e posteriormente para o grande público por meio de aplicativos móveis e plataformas online. Hoje, é possível criar manipulações realistas usando computador e internet em casa.

No início de 2019, uma das ferramentas de deepfake mais conhecidas era o ZAO, um app chinês criado para iOS que permitia capturar uma selfie e embutir o rosto no corpo de um personagem de filme ou série em segundos. Por questões de segurança, o programa limitava as cenas em que os usuários podiam editar vídeos falsos, uma vez que a técnica poderia ser usada para a criação de fake news.

Para quem precisa de algo mais sofisticado, o FSGAN reproduz não apenas os trejeitos do rosto da fonte mas também sua voz. A ferramenta foi criada por Yuval Nirkin e está disponível na Open University of Israel. Para que funcione, no entanto, é necessário um hardware de altíssimo desempenho que é praticamente impossível de ser adquirido por usuários finais.

De acordo com John Vilasenor, pesquisador do Centro de Inovações Tecnológicas Brookings Institution, organização que pesquisa o tema, a popularidade da técnica tem chamado atenção de autoridades para a necessidade da fiscalização e regulamentação da tecnologia.

O termo deepfake apareceu em dezembro de 2017, quando um usuário do Reddit com esse nome começou a postar vídeos de sexo falsos com famosas. Com softwares de deep learning, ele aplicava os rostos que queria a clipes já existentes. Os casos mais populares foram os das atrizes Gal Gadot e Emma Watson. A expressão deepfake logo passou a ser usada para indicar uma variedade de vídeos editados com machine learning e outras capacidades da IA.

Efeitos especiais de computador que criam rostos e cenas no audiovisual não são nenhuma novidade; o cinema faz isso há muitos anos. A grande virada do chamado deepfake está na facilidade com que ele pode ser produzido. Comparado ao que costumava ser necessário, o método atual é simples e barato. Qualquer um com acesso a algoritmos e conhecimentos de deep learning, um bom processador gráfico e um amplo acervo de imagens pode criar um vídeo falso convincente.

A técnica é baseada em deep learning, uma subclassificação de IA para definir algoritmos de podem reconhecer padrões com base em um banco de dados. Isso significa que, para criar um vídeo de deepfake de determinada personalidade, o sistema precisa ser alimentado com fotos e vídeos em que ela aparece. Quanto mais material houver, maiores serão as chances de se obter um bom resultado. Treinada com base no conteúdo fornecido, a IA aprende como a pessoa se comporta, passando a reconhecer padrões de movimento, trações do rosto, da voz e de outras características.

São utilizados softwares baseados em bibliotecas de código aberto voltadas ao aprendizado de máquina. Segundo entrevista ao site Motherboard, o usuário do Reddit usou TensorFlow aliado ao Keras, uma API de deep learning escrita em linguagem Python. O programador fornece centenas e até milhares de fotos e vídeos das pessoas envolvidas, que são automaticamente processadas por uma rede neural. É como um treinamento, no qual o computador aprende como é determinado rosto, como ele se mexe, como ele reage a luz e sombras.

O deepfake é muito recente e sua definição é fluida. O fenômeno se confunde na discussão pública com tecnologias com funções similares ou complementares. Há, por exemplo, um programa anunciado pela Adobe que consegue criar falas com a voz de uma pessoa a partir de amostras reais. Existem ainda experimentos de reencenação facial, com a recriação das mesmas falas e expressões de uma pessoa no rosto de outra, e de sincronização labial, vídeos de alguém falando gerado com áudio e imagens de seu rosto.

Agora que os deepfakes fazem parte da nossa realidade, é essencial aprender a identificá-los. Pode ser que cheguemos a um ponto em que isso seja impossível ou muito difícil, mas hoje ainda existem alguns detalhes que ajudam a revelar um vídeo falso. Preste atenção nos movimentos da boca, se eles correspondem bem ao que está sendo dito. Fique atento também para a própria voz: a entonação e o tom soam normais?

Verifique os olhos para notar se eles estão piscando. Na maioria das vezes, os algoritmos não reproduzem bem esse aspecto nem a respiração da pessoa. Veja ainda se ela se mexe de forma natural como um todo. As recriações podem ter dificuldade em encaixar todas as partes do rosto e do resto do corpo e duplicar certos movimentos orgânicos. E se a pessoa no vídeo em questão é alguém que você não conhece bem, procure outros clipes, de preferência em que haja certeza de veracidade, para comparar.