deepfake

Deepfake é uma técnica que utiliza recursos de inteligência artificial para substituir rostos em vídeos e imagens com o propósito de chegar o mais próximo possível da realidade. O termo é uma mistura das expressões deep learning e fake e significa o emprego da IA para criar uma situação falsa. Ramalho Lima – tecmundo

O deepfake é uma tecnologia que usa inteligência artificial (IA) para criar vídeos falsos, mas realistas, de pessoas fazendo coisas que elas nunca fizeram na vida real. A técnica que permite fazer as montagens de vídeo já gerou desde conteúdos pornográficos com celebridades até discursos fictícios de políticos influentes.  Isabela Cabral – TechTudo

MIT

Grace Windheim já tinha ouvido falar de deepfakes antes, descobrir que era super fácil e totalmente gratuito e em um dia do ano de 2020, ela criou um tutorial passo a passo no YouTube para guiar outras pessoas ao longo do processo. “Fazer uma dessas deepfakes e sobrepor áudio não é tão complicado quanto você pode pensar”, diz ela no vídeo, publicado em 4 de agosto. MIT Technology Review

Windheim, recém-formada, trabalha como criadora de conteúdo na startup Kapwing, com sede em São Francisco. A empresa, que começou como fabricante de memes, oferece um pacote baseado em navegador gratuito de ferramentas de software de edição de vídeo.

O que era caro e extremamente trabalhoso se tornou simples e acessível a princípio para especialistas da área e posteriormente para o grande público por meio de aplicativos móveis e plataformas online. Hoje, é possível criar manipulações realistas usando computador e internet em casa.

No início de 2019, uma das ferramentas de deepfake mais conhecidas era o ZAO, um app chinês criado para iOS que permitia capturar uma selfie e embutir o rosto no corpo de um personagem de filme ou série em segundos. Por questões de segurança, o programa limitava as cenas em que os usuários podiam editar vídeos falsos, uma vez que a técnica poderia ser usada para a criação de fake news.

Para quem precisa de algo mais sofisticado, o FSGAN reproduz não apenas os trejeitos do rosto da fonte mas também sua voz. A ferramenta foi criada por Yuval Nirkin e está disponível na Open University of Israel. Para que funcione, no entanto, é necessário um hardware de altíssimo desempenho que é praticamente impossível de ser adquirido por usuários finais.

De acordo com John Vilasenor, pesquisador do Centro de Inovações Tecnológicas Brookings Institution, organização que pesquisa o tema, a popularidade da técnica tem chamado atenção de autoridades para a necessidade da fiscalização e regulamentação da tecnologia.

O termo deepfake apareceu em dezembro de 2017, quando um usuário do Reddit com esse nome começou a postar vídeos de sexo falsos com famosas. Com softwares de deep learning, ele aplicava os rostos que queria a clipes já existentes. Os casos mais populares foram os das atrizes Gal Gadot e Emma Watson. A expressão deepfake logo passou a ser usada para indicar uma variedade de vídeos editados com machine learning e outras capacidades da IA.

Efeitos especiais de computador que criam rostos e cenas no audiovisual não são nenhuma novidade; o cinema faz isso há muitos anos. A grande virada do chamado deepfake está na facilidade com que ele pode ser produzido. Comparado ao que costumava ser necessário, o método atual é simples e barato. Qualquer um com acesso a algoritmos e conhecimentos de deep learning, um bom processador gráfico e um amplo acervo de imagens pode criar um vídeo falso convincente.

A técnica é baseada em deep learning, uma subclassificação de IA para definir algoritmos de podem reconhecer padrões com base em um banco de dados. Isso significa que, para criar um vídeo de deepfake de determinada personalidade, o sistema precisa ser alimentado com fotos e vídeos em que ela aparece. Quanto mais material houver, maiores serão as chances de se obter um bom resultado. Treinada com base no conteúdo fornecido, a IA aprende como a pessoa se comporta, passando a reconhecer padrões de movimento, trações do rosto, da voz e de outras características.

São utilizados softwares baseados em bibliotecas de código aberto voltadas ao aprendizado de máquina. Segundo entrevista ao site Motherboard, o usuário do Reddit usou TensorFlow aliado ao Keras, uma API de deep learning escrita em linguagem Python. O programador fornece centenas e até milhares de fotos e vídeos das pessoas envolvidas, que são automaticamente processadas por uma rede neural. É como um treinamento, no qual o computador aprende como é determinado rosto, como ele se mexe, como ele reage a luz e sombras.

O deepfake é muito recente e sua definição é fluida. O fenômeno se confunde na discussão pública com tecnologias com funções similares ou complementares. Há, por exemplo, um programa anunciado pela Adobe que consegue criar falas com a voz de uma pessoa a partir de amostras reais. Existem ainda experimentos de reencenação facial, com a recriação das mesmas falas e expressões de uma pessoa no rosto de outra, e de sincronização labial, vídeos de alguém falando gerado com áudio e imagens de seu rosto.

Agora que os deepfakes fazem parte da nossa realidade, é essencial aprender a identificá-los. Pode ser que cheguemos a um ponto em que isso seja impossível ou muito difícil, mas hoje ainda existem alguns detalhes que ajudam a revelar um vídeo falso. Preste atenção nos movimentos da boca, se eles correspondem bem ao que está sendo dito. Fique atento também para a própria voz: a entonação e o tom soam normais?

Verifique os olhos para notar se eles estão piscando. Na maioria das vezes, os algoritmos não reproduzem bem esse aspecto nem a respiração da pessoa. Veja ainda se ela se mexe de forma natural como um todo. As recriações podem ter dificuldade em encaixar todas as partes do rosto e do resto do corpo e duplicar certos movimentos orgânicos. E se a pessoa no vídeo em questão é alguém que você não conhece bem, procure outros clipes, de preferência em que haja certeza de veracidade, para comparar.

10 fatos sobre inteligência artificial

O conceito de IA se refere à criação de máquinas – não necessariamente com corpo físico – com a habilidade de pensar e agir como humanos. Softwares que conseguem abstrair, criar, deduzir e aprender ideias. O objetivo geralmente está em facilitar tarefas do dia a dia, avançar pesquisas científicas e modernizar indústrias. Veja, a seguir, dez fatos que o TechTudo reuniu sobre o passado, o presente e o futuro da inteligência artificial. Isabela Cabral

1. A história da inteligência artificial tem pelo menos 62 anos

 Já na Antiguidade, seres artificiais e homens mecânicos apareciam em mitos gregos e romanos. Filósofos e matemáticos de várias eras exploraram a possibilidade de mecanização do pensamento. No início do século passado, a ideia começa a surgir nas obras de ficção científica, como na peça teatral Rossum’s Universal Robots (1920), que introduziu a palavra “robô”, e no celebrado filme Metropolis (1927).

A Segunda Guerra reuniu cientistas de diversas áreas, incluindo neurociência, engenharia, matemática e computação. Alguns discutiam já nas décadas de 1940 e 1950 a criação de um cérebro artificial. Entre eles estava Alan Turing, conhecido como “o pai da informática”. Em 1956, nasceu oficialmente um campo de estudo voltado para a inteligência artificial. A Conferência Dartmouth formalizou o termo, determinou a missão da IA e seus pesquisadores precursores. Marvin Minsky, John McCarthy, Allen Newell e Herbert A. Simon foram alguns dos nomes fundamentais no processo.

2. Ela já está presente na sua vida

Assistentes virtuais como a Siri, a Cortana e o Google Assistant são bons exemplos de inteligência artificial em contato direto com os usuários. Mas os smartphones, computadores e outros gadgets do cotidiano também operam com IA de muitas outras maneiras, a começar pelo Google.

O app Fotos reconhece o conteúdo de suas imagens e permite que você faça uma busca digitando o nome de um objeto ou ação. O YouTube pode transcrever áudio e gerar legendas para os vídeos em 10 idiomas. O Gmail oferece respostas automáticas inteligentes para seus e-mails. O Google Tradutor traduz textos de placas, rótulos e cardápios com a câmera do celular. E vem mais por aí: a empresa anunciou que IA é um dos temas centrais das apresentações do Google I/O 2018, conferência anual que traz as novidades da companhia.

Spotify e a Netflix usam inteligência artificial para entender as preferências dos usuários e recomendar, respectivamente, músicas e filmes. A Amazon faz algo parecido ao oferecer a seus clientes novos produtos a partir de machine learning. O software ajuda a decidir até qual é o melhor momento para fazer as ofertas.

Carros autônomos também já são realidade e devem chegar ao mercado em poucos anos. Empresas como Google, UberSamsung e Volkswagen estão desenvolvendo e testando veículos que dirigem sozinhos. No cinema, a inteligência artificial cria multidões de pessoas para cenas de filmes. Na medicina, está ajudando a avançar estudos sobre o câncer.

3. Inteligência artificial não é o mesmo que machine learning

O “aprendizado de máquina” é uma aplicação de IA muito utilizada hoje, em que um programa acessa um grande volume de dados e aprende com eles automaticamente, sem intervenção humana. É o que acontece no caso das recomendações da Netflix e do Spotify e no reconhecimento facial em fotos do Facebook, por exemplo.

4. O aumento na coleta de dados em massa impulsionou a IA

Big Data, conjunto massivo de dados que serve de base para o aprendizado dos mais diversos softwares, como o machine learning, com mais informação disponível, os pesquisadores e as empresas ganharam mais motivação para buscar maneiras inteligentes e automatizadas de processar, analisar e usar os dados.

5. Google, IBM, Microsoft, Facebook, Amazon e outras empresas formaram um grupo de pesquisa e defesa da IA

Em 2016, grandes corporações do mundo da tecnologia, incluindo Google, IBMMicrosoft, Facebook e Amazon, se uniram para criar a “Parceria em IA para beneficiar pessoas e a sociedade”. O grupo afirma que quer avançar pesquisas e defender implementações éticas da inteligência artificial.

6. A inteligência artificial vai substituir humanos em muitos empregos

De acordo com a empresa de consultoria e auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC), até 2030 robôs substituirão 38% das vagas de trabalho nos Estados Unidos, 30% no Reino Unido e 21% no Japão. Os setores de transporte, armazenamento, manufatura e varejo serão os mais afetados.

7. Especialistas acreditam que a inteligência artificial vai alcançar a capacidade humana em menos de 25 anos

Uma pesquisa realizada em 2013 fez a seguinte pergunta para centenas de especialistas em IA: quando o nível de inteligência artificial será 50% da inteligência humana? A resposta média foi 2040. Enquanto isso, outro estudo recente mostrou que 42% de um grupo de cientistas acreditam que a singularidade será atingida antes de 2030.

8. Ela já é melhor que seres humanos em algumas tarefas

Não há previsões de quando a inteligência artificial chegará ao patamar humano, mas já existem robôs que são melhores do que nós em tarefas específicas. Por exemplo, em 2011 o IBM Watson venceu os humanos no Jeopardy!, famoso programa americano de perguntas e respostas. Depois disso, a IA continuou em desenvolvimento e hoje já consegue fazer diagnósticos de câncer com maior precisão que os médicos. Sua taxa de acerto é de 90%, em comparação a 50% no caso dos seres humanos.

9. Grandes nomes da tecnologia estão preocupados com as consequências desse avanço

Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, já falou publicamente várias vezes que acredita que a inteligência artificial pode um dia se tornar uma ameaça para as pessoas e até pôr fim à humanidade. O empresário é entusiasta das mais avançadas tecnologias, mas ressalta a necessidade de regulamentação na área da IA e gostaria que armas autônomas fossem banidas. Armamentos operados por softwares inteligentes já são realidade em alguns governos.

O físico Stephen Hawking, que morreu em março, expressava sua preocupação também com o poder destrutivo de armas independentes e temia a substituição da força de trabalho humana, sem a criação suficiente de novas vagas. Bill Gates, fundador da Microsoft, concorda com Musk e Hawking e disse que não entende como algumas pessoas não estão preocupadas.

10. O basilisco de Roko é uma hipótese terrível sobre a IA

Existe um experimento mental assustador conhecido como Basilisco de Roko. A ideia é que, no futuro, uma poderosa inteligência artificial possa torturar todos que não a ajudaram de alguma forma a ser criada. Apenas o fato de saber sobre o basilisco, como você está fazendo ao ler estas palavras, colocaria alguém em perigo, já que a IA passaria a incluir tal pessoa em suas simulações.

O experimento está fundamentado em teorias complexas, mas que remetem a uma noção de que uma IA não teria limites por tentar tornar o mundo cada vez melhor. Com as ambiguidades da tarefa e sem a moral humana, ela faria de tudo que considerasse necessário, inclusive machucar pessoas. Assim, os que não facilitaram sua existência e desenvolvimento estariam sob ameaça.

O Basilisco de Roko foi proposto em um fórum de discussão do LessWrong, uma plataforma criada pelo pesquisador Eliezer Yudkowsky, que está a frente do Instituto de Pesquisa de Inteligência de Máquina (MIRI). O próprio Yudkowsky já deixou claro que acredita nos riscos da ideia.